Musculação para adolescentes, riscos versus benefícios

A pratica da musculação por adolescentes ainda é vista com desconfiança por parte dos pais com medo que atrapalhe o seu desenvolvimento ( 1 ) Esse medo sem fundamento, vem dos primeiros estudos que afirmavam não ser seguro a prática da musculação para essa faixa etária, mas novas evidências têm indicado que tanto crianças quanto adolescentes podem se beneficiar com o treinamento de força.

Recentes estudos têm demonstrado que os riscos do treinamento de força bem orientado e individualizado são praticamente nulos, já que nenhum tipo de lesão foi citado nos programas com protocolos específicos para crianças e adolescentes. (3)

Por outro lado a prática da musculação é eficaz no combate do sedentarismo em adolescentes. Além disso, o treino de musculação pode ajudar na sociabilização e aumento da auto-estima dos mesmos. Não existe uma idade mínima para que os adolescentes comecem a fazer musculação, o  único requisito básico é que ele seja capaz de seguir as orientações dos professores. Os adolescentes devem começar a musculação somente se eles quiserem e só devem continuar treinando se estiverem motivados para tal. ( 4 ).

MUSCULAÇÃO & ADOLESCENTES POSICIONAMENTO ATUAL

A primeira recomendação sobre a pratica de musculação para crianças e adolescentes aconteceu em 1985, a Associação Americana de Treinamento de Força e Condicionamento Association (NSCA) recomendou que as crianças nunca deveriam trabalhar com cargas máximas antes da puberdade ( 2 ). Em 1990, a Academia Americana de Pediatria recomenda que os jovens deviam  evitar o treinamento de musculação antes de atingir sua altura máxima, algo por volta dos 15 anos de ambos os sexos ( 6 ). Em 1993, o ACSM ( 5 ) recomendou que os programas de treinamento de força não deveriam trabalhar com cargas máxima

A partir dos anos 2000 todos esses institutos revisaram suas posições e passaram a recomendar a prática dos exercícios resistidos como um componente importante dos programas de condicionamento físico para crianças e adolescentes;

  • American Orthopedic Society for Sports Medicine (AOSSM, 1988)
  • National Strength and Conditioning Association (NSCA, 1996)
  • American College Of Sports Medicine (ACSM, 2000)
  • The American Academy of Pediatrics (AAP, 2001)

Em seus guias, eles recomendam que o os programas de musculação usem séries de 6 a 60 repetições com supervisão da técnica de um professor a fim de evitar lesões. A carga de trabalho deve ser aumentada gradualmente à medida que a força aumenta, sempre que o aluno realizar as repetições das séries sem fadiga a carga deve ser aumentada de 5% a 10%

MUSCULAÇÃO & ADOLESCENTES RISCOS E BENEFÍCIOS

Riscos da  musculação para adolescentes

A carga de trabalho nos exercício de musculação sempre é alvo de grandes debates entre os profissionais de saúde, pois ainda existe o medo que o peso possa interromper o processo de crescimento.

Estudos como o de Faigenbaum, comprovaram que forças compressivas do treinamento de musculação são 200% menores que as alcançadas em brincadeiras comuns que naturalmente envolvem saltos, quedas e corridas. Outro estudo demonstrou que o risco de lesão em atividades cotidianas é maior que no treinamento de força, e que as lesões geradas por ele são na grande parte das vezes fruto de desconhecimento a respeito do que se é feito em uma sala de musculação. (7)

A American Academy of Pediatrics concorda com esses resultados e ressalta que lesões que acontecem no treino de musculação são por falta de supervisão de um profissional capacitado a corrigir as técnicas de execução de exercícios (8).

Perguntas para reflexão;

1º O uso da flexão de braço, subida na corda e escalada em muros vem sendo usada nas aulas de educação física a mais de 100 anos e nunca ouvi alguma restrição a esse tipo de atividade. Só que realizar uma flexão de braço é a mesma coisa que fazer um exercício de supino e subir em uma corda ou muro é a mesma coisa que fazer um puxador. Será que paramos de crescer por isso?

2º Correr a 8km/ por gera mais de 6 vezes o peso do corpo em cada passada, portanto uma criança de 10 anos com 40kg estaria sujeita a uma carga de 240kg por passada. Mas, será que paramos de crescer por brincar de pega pega?

Benefícios da  musculação para adolescentes

O sedentarismo é um mal que acomete grande parte da população de brasileira de crianças e adolescentes e qualquer forma de exercício que possa contribuir para elevação da aptidão física deve ser estimulada. A aptidão física relacionada à saúde envolve basicamente as seguintes capacidades físicas: resistência cardiorrespiratória, força/resistência muscular, flexibilidade e composição corporal. Já entre as capacidades motoras, a força é uma das mais importantes para o movimento humano. Dessa maneira, a força se torna importante para atividades recreativas e competitivas, sendo ela um importante componente da aptidão física. (9)

O desenvolvimento das funções musculares pode ser incrementado pelo treinamento de força, por meio de sobrecargas, podendo ser aplicada mediante máquinas específicas, por pesos livres, ou peso corporal. (9)

Um programa de exercício eficiente e seguro é necessário para tratar doenças crônicas (ex. obesidade) na infância. O treinamento de força tem sido adotado como forma segura e eficaz nos programas para redução de peso em crianças e adolescentes. Em um estudo realizado na Universidade de Louisiana, os pesquisadores utilizaram a musculação num programa para redução de peso corporal em crianças. Houve mudanças significativas na composição corporal (redução de peso e % de gordura) e nenhuma lesão foi reportada nessa pesquisa. (9)

O desenvolvimento ósseo das crianças também é afetado positivamente em função do treinamento com pesos. Quantidades aumentadas de fibras colágenas e sais inorgânicos são depositados nos ossos como resposta a tensão muscular, coeficiente de tensão e compressão. Essa melhora da densidade óssea pode ser importantíssima na prevenção da osteoporose, já que um aumento na ordem de apenas 5% da densidade mineral óssea pode diminuir os riscos de fraturas em idades avançadas em até 25%. (10)

Além disso, o treinamento de musculação promove uma série de benefícios como:

  • Aumento da força e resistência muscular
  • Melhora do desempenho esportivo.
  • Prevenção de lesões nos esportes e também em atividades recreativas
  • Reabilitação de lesões.
  • Melhora da composição corporal, com diminuição da gordura corporal, podendo dessa forma prevenir e tratar a obesidade infantil
  • Aumento da densidade mineral óssea
  • Aumento da capacidade cardiorespiratória
  • Diminuição de lipídios sanguíneos
  • Melhoria do bem estar psico-social (10)

Conclusão

Se o programa de musculação for planejado para as necessidades das crianças e adolescente não haverá prejuízo ao seu crescimento. É seguro afirmar que os exercícios de força são seguros desde que a carga de treinamento seja adequada a idade e ao nível de condicionamento.

Referências:

  • 1.US Departamento de Saúde e Serviços Humanos: Atividade Física e Saúde: Um Relatório do Surgeon General. Atlanta, EUA Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Centros para Controle e Prevenção de Doenças, Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde, 1996.
  • 2.GUY JA; MICHELI LJ Strength training for children and adolescents. J Am Acad Orthop Surg; 9(1):29-36, 2001 Jan-Feb
  • 3.BLIMKIE CJ. Resistance training during preadolescence. Issues and controversies. Sports Med; 15(6):389-407, 1993 Jun.
  • 4.National Força e Associação condicionado. Documento de posição sobre pré-púbere forçatreinamento. Nacional de Força e Condicionamento Association Journal 7 (4) :27-31, 1985.
  • 5.American de Medicina do Esporte. Comentário atual:. A prevenção de lesões esportivas de crianças e adolescentes Medicine & Science in Sports & Exercise ® 25 (8 Supl.) :1-7, 1993.
  • 6.Nelson, MA, B. Goldberg, SS Harris, et al. Comissão de Medicina Esportiva: Força . treinamento, peso e levantamento de peso e musculação por crianças e adolescentes Pediatria 86 (5) :801-803, 1990.
  • 7. FAIGENBAUM, A. D. Psychosocial benefits of prepubescent strength, training. Strength and Conditioning, United States, v. 17, n. 2, p. 28-32, apr. 1995. doi: 10.1519/1073-6840(1995)017<0028:PBOPST>2.3.CO;2
  • 8. BERNHARDT, D. T. et al. Strength training by children and adolescents. Pediatrics, United States, v. 107, n. 6, p. 1470-1472, jun. 2001. doi: 10.1542/peds.107.6.1470
  • 9. FLECK, S.J; KRAEMER, W.J. Fundamentos do Treinamento deForça Muscular, ArtMed, 3° Ed., 2007
  • 10. Treinamento de Força para Jovens Atletas – Editora Manole – WILLIAM J.KRAEMER; FLECK, S.J

 

Autor: Rodrigo Ramos

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