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20 de fevereiro de 2018Os suplementos para aumentar a queima de gordura e promover a perda de peso são os mais vendidos no mundo inteiro, ter um corpo atlético é o objetivo da maiorias dos alunos que frequentam a sala de musculação e a suplementação de ácido linoleico conjugado (CLA) surgiu a cerca de 10 anos com a promessa de promover o aumento da queima de qurdura.
O que é?
O ácido linoleico conjugado (CLA) refere-se a um grupo de isômeros do ácido linoleico, caracterizados pela presença de dienos conjugados. O CLA é um componente natural contido em gorduras de animais ruminantes, disponibilizados na dieta humana através da ingestão de carnes e laticínios. O consumo de CLA pode acarretar vários efeitos biológicos como: anticarcinogênese, antiaterogênese, imunomodulação e alterações da composição corporal.2 Na natureza, o isômero mais abundante é o cis-9, trans-11 (c9,t11), ao contrário da maioria dos suplementos comercializados, que apresentam, geralmente, concentrações equivalentes às dos isômeros predominantes (c9,t11 e t10,c12).
A suplementação de CLA foi apontada como ser capaz de influenciar a composição corporal e reduzir a gordura corporal. Dos estudos que observaram o efeito do CLA sobre a perda de peso em seres humanos, a maioria não reportou efeito estatisticamente significativo, ao passo que outros mostraram redução da massa gorda corporal. As explicações para resultados tão divergentes podem residir no fato de que os estudos supracitados utilizaram diferentes tipos e doses de isômeros, além da duração e do sexo estudados nos experimentos diferirem entre si.
Mecanismos de ação
Dentre as várias possibilidades de mecanismos de ação do CLA, Park et al. verificaram um aumento na atividade da lipase hormônio-sensível, e conseqüentemente da lipólise em adipócitos, acompanhado por uma maior oxidação de AG tanto no músculo esquelético quanto no tecido adiposo, pelo aumento também da atividade da carnitina palmitoil-transferase (CPT).
Os efeitos do CLA in vitro, de aumentar a lipólise e reduzir a atividade da LPL7, foram posteriormente confirmados também em camundongos estando em concordância com aumento no gasto energético e oxidação de lipídios em animais. Essa ainda é a teoria predominante quanto aos possíveis mecanismos de ação do CLA sobre a composição corporal.
Outras teorias também têm sido propostas. Segundo Bjorntorp22, os adipócitos da gordura abdominal visceral de homens obesos parecem ter maior habilidade de mobilização do que os adipócitos da gordura subcutânea, em resposta às catecolaminas. Assim, uma hipótese das ações do CLA na composição corporal seria a indução da lipólise pelas catecolaminas, como demonstrado por Park et al.in vitro, o que poderia causar redução seletiva de gordura visceral, e indiretamente da gordura abdominal sagital, como verificado por Riserus et al. Essa teoria também poderia, em parte, explicar um efeito diferenciado do CLA, sendo mais pronunciado em homens obesos (predominância de obesidade andróide) do que em mulheres obesas (preferencialmente obesidade ginóide).
Tem sido postulado ainda que a inibição do crescimento de células epiteliais de mamíferos pelo CLA está associada à apoptose (morte celular programada), e à redução do número de células em culturas de pré-adipócitos. Foi também verificado aumento de cerca de quatro vezes na incidência de apoptose na gordura retroperitoneal em camundongos tratados com 2% de CLA após cinco ou catorze dias.
O possível efeito termogênico do CLA tem sido relacionado à indução na expressão gênica de proteínas desacopladoras (UCPs), verificada no tecido adiposo marrom de ratos diabéticos (ZDF). Entretanto, ao contrário do observado em ratos, esse efeito é pouco expressivo em humanos.
Adicionalmente, algumas evidências mostraram que vários isômeros do CLA têm afinidade de ligação aos receptores de ativação e proliferação peroxissomal (PPARs), fatores de transcrição que controlam a betaoxidação, as vias de transporte dos AGs, e diferenciação de adipócitos30. Tal afinidade parece ocorrer especialmente com o PPARa, que está envolvido diretamente com a manutenção da homeostase lipídica, e possivelmente, também com o PPARy32, que induz a expressão gênica das isoformas das UCPs-2 tanto no músculo esquelético quanto no tecido adiposo marrom.
A Tabela 2 apresenta alguns mecanismos de ação do CLA propostos em estudos de cultura de células ou em animais, relacionados à composição corporal. Os possíveis mecanismos de ação do CLA relacionados à composição corporal estão também apresentados nas Figuras 1 e 2.
Os estudos
Uma metanálise mostrou, que o uso de CLA levou a uma modesta, porém significante, redução da massa gorda (0,09 kg/semana), quando comparado ao grupo placebo. Embora esse efeito pareça ser de pequena consequência fisiológica, ele se contrapõe à atual tendência dos norte-americanos em aumentar seus respectivos pesos corporais (0,4 kg/ano ou 0,009 kg/semana).
Quando analisadas as doses de CLA administradas, verificou-se que o consumo de 3,4 g/dia resultou na perda de peso corporal da ordem de 0,14 kg/semana, ao passo que a ingestão de 6,8 g/ dia induziu redução da ordem de 0,11 kg/semana. A falha em mostrar uma relação dose-resposta reflete a inerente variabilidade da perda de massa gorda em seres humanos. Há insuficientes dados em seres humanos que permitam determinar se doses superiores produziriam perdas de peso adicionais.
Em um estudo randomizado e duplo-cego, 80 indivíduos obesos participaram de um programa para perda de peso, com dieta hipocalórica contendo ou não CLA (2,7g/dia) e exercício físico, por seis meses. Não houve diferença na perda de peso e tecido adiposo entre os grupos, apesar de ter sido detectada uma tendência de maior ganho de massa magra e perda de tecido adiposo em alguns indivíduos no grupo tratado com CLA. Entretanto, por estarem os indivíduos utilizando dieta hipocalórica e fazendo atividade física, torna-se difícil a interpretação dos resultados, já que tanto a dieta quanto a atividade física interferem no metabolismo energético e na composição corporal.
Zambell et al. não verificaram mudanças na composição corporal, gasto energético, quociente respiratório e taxa de oxidação de lipídios em mulheres obesas (n=10), com gordura corporal total de 31±1,5% que receberam 3g de CLA, mistura dos vários isômeros, por 64 dias.
No estudo de Blankson et al., também randomizado e duplo-cego, 60 voluntários com sobrepeso ou obesidade (IMC entre 25 e 35kg/m2) receberam uma dieta com 9g/dia de óleo de oliva (grupo placebo), ou uma dieta com 1,7; 3,4; 5,1 ou 6,8g de CLA/dia, por doze semanas, sendo os isômeros predominantes o 9-cis, 11-trans e o 10-trans, 12-cis, 1:1. Verificou-se uma redução significativa no tecido adiposo dos indivíduos que receberam as doses de 3,4 (n=7) e 6,8 (n=10); e aumento da massa magra somente no grupo que recebeu 6,8g de CLA. Entretanto, como um treinamento físico foi realizado conjuntamente com o uso do CLA, e os níveis de atividade diferiram entre os grupos, também não foi possível avaliar se o efeito da modificação na composição corporal foi devido ao uso do CLA, do exercício, ou da combinação dos dois fatores.
Todavia, em homens de meia idade (n=14) que apresentavam obesidade andróide, a suplementação de 4,2g de CLA/dia (9-cis, 11-trans e o 10-trans, 12-cis) reduziu a gordura sagital abdominal após quatro semanas. Porém, seria necessária a utilização de um método mais sensível, como a tomografia, que permite discriminar os diferentes tecidos, especialmente a gordura abdominal visceral da subcutânea, para melhor avaliação do resultado.
Quando levamos em consideração a duração, a maioria dos estudos é finalizada em períodos inferiores a 12 semanas. Em geral, a perda de massa gorda é praticamente linear durante os primeiros 6 meses de tratamento e depois começa a desacelerar, com base em dados de apenas um único estudo, realizado pelo período de 2 anos. Contudo, ainda não é possível extrair conclusões definitivas sobre o potencial benefício do consumo de CLA sobre os parâmetros de composição corporais em longo prazo.
Segurança
Com respeito à segurança e à eficácia, tem sido sugerido que preparações de CLA enriquecidas com os isômeros t10,c12 e c9,t11 são preferíveis em relação ao uso de isômeros isolados.
Conclusão
Em conclusão, quando consideramos as evidências apresentadas, o CLA apresenta capacidade potencial de reduzir a massa gorda e o peso corporal e pode ser considerado uma estratégia nutricional interessante em relação ao controle do excesso de peso e da obesidade, especialmente na sociedade atual, em que o contínuo e gradual ganho de peso é uma característica inerente da população adulta.
Referências
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